Até a chegada do primeiro filho, o animal de estimação era o centro das atenções. De repente, o bebê passa a ser alvo de todos os mimos e carinho, e o bichinho de estimação passa a ser colocado em segundo plano ou até mesmo negligenciado. Portanto, pequenas mudanças devem ser promovidas pela família antes mesmo da chegada do bebê, para que o bichinho não se sinta preterido.
É importante lembrar que o animal estava antes do bebê, assim ele se ressentirá por não ter mais toda a atenção, isso não significa que esse indivíduo seja de índole difícil ou mesmo temperamental. É uma desestruturação em toda a dinâmica emocional da família. Eu mesma preparei meus quatro cães e cincogatos para a chegada do meu primeiro filho, em maio de 2013.
E nem pensar em excluir o animal de estimação dos preparativos para a chegada do novo membro da família.Impedir completamente o acesso do animal ao futuro quarto do bebê, só vai gerar ainda mais curiosidade e ansiedade. Alguns animais podem fazer de tudo para tentar entrar no quarto da criança e quando conseguirem serão capazes de fazer coisas somente para chamar a atenção, como urinar dentro do quartinho, destruir objetos ou móveis.
Quando iniciamos os preparativos para receber o bebê, devemos fazer com que o animal participe do processo. Sei que a maioria das mães fica bastante preocupada com a questão da higiene e dos cuidados sanitários, mas é importante manter o animal vacinado, vermifugado e sempre de banho tomado, feito isso ele pode ter acesso aos espaços destinados ao bebê.
O bichinho de estimação pode apresentar mudanças de comportamento desde o momento que percebe a gestação. Muitos animais notam que suas ‘mães’ ou tutoras estão diferentes, afinal durante a gestação nosso odor se altera, nossa forma física fica diferente e também nosso padrão vibratório. Alguns ficam mais arredios, outros mais curiosos e outros ainda mais apegados. É importante, nessa fase, manter o animal junto, recebendo carinhos e já mostrando que mudanças vão acontecer. Para animais que costumam deitar na barriga, tentar fazer com que eles percebam os movimentos do bebê e dizer que o nenê está ali.
Ciúmes, curiosidade, medo ou ainda agressividade são alguns dos diferentes tipos de comportamentos que os animais de estimação podem apresentar.Existem diferentes métodos de abordagem para evitar que o animal fique com ciúmes. O importante é nunca fazer do fato um evento, ou seja, a abordagem deve ser o mais natural possível para evitar traumas e situações estressantes.
Para evitar que o animal sinta-se preterido e fique ressentido com a chegada da criança é importante fazê-lo entender que a família vai ganhar um novo membro e não um concorrente, alguém que vai roubar o seu lugar. Quando o bebê ainda estiver na maternidade, algum membro da família deve levar para casa uma peça de roupa usada pelo bebê e entregar para o cão ou gato, para que o animalzinho sinta o cheiro, assim quando a criança chegar já terá seu cheiro reconhecido.
Após a introdução, o próximo passo é preparar o pet para receber seu novo irmãozinho ou irmãzinha. Ao entrar com o bebê, apresente a criança, se abaixe na altura do cão e deixe que o animal o cheire, comece pelo pezinho e vá identificando a reação do animal, se ela for positiva permita que ele vá cheirando cada vez mais. Depois disso leve o bebê para o quarto e chame o cão, com palavras em tom carinhoso explique que este é um ‘irmãozinho (a)’ e que ali é o lugar dele.
Outra dica valiosa, durante o processo de adaptação, é associar a criança a situações agradáveis. Quando notar que o cão ficou triste, pois espera uma atenção que não teve, chame-o para participar. Ao amamentar, por exemplo, coloque o cão próximo e traga um brinquedo ou petisco para esse momento. Assim, enquanto a mãe amamenta o seu bebê, o cão estará feliz com a atenção e fará uma associação positiva desse momento.
Para animais muito ansiosos, ciumentos ou possessivos, é recomendado entrar em contato e conversar com o veterinário de confiança, pois existem diferentes tipos de tratamentos, como florais, fitoterápicos e até mesmo ansiolíticos para preparar o animal para essas mudanças. Em certos casos, o encaminhamento para um comportamentalista pode ser necessário.
Se em algum momento algo inesperado ocorrer, como o animal latir, rosnar e até tentar avançar na criança, é importante manter a calma. Obviamente, retire a criança do alcance do animal em caso de tentativa de agressão, mas se foi um latido, repreenda sem gritar, diga que isso assusta o bebê e tente fazer associações positivas, com o uso de petiscos ou brinquedos que devem ser associados à criança e não ao adulto envolvido.
Devemos evitar as reações exageradas, como por exemplo, gritos, sustos, medos exacerbados porque os animais percebem essas reações e vão agir com insegurança e, no caso dos dominantes, vão tentar se sobrepor, é importante manter sempre a tranquilidade e a naturalidade.
Manter a rotina do animal também faz parte do processo de introdução do bebê, ou seja, evite mudar hábitos como a frequência de passeios e brincadeiras. A rotina do cão deve ser mantida, sei que tudo muda ou no mínimo se altera, mas é importante lembrar que toda e qualquer mudança gera ansiedade e estresse e o cão pode exacerbar essa vibração de forma negativa.
Médica veterinária graduada pela Universidade Paulista. Atuou como Professora da Universidade Metropolitana de Santos por 4 anos (Doenças Parasitárias e Epidemiologia). Foi Diretora Clínica da Rede Encrenquinha’s de Pet Shops e responsável pelo canil de reprodução da empresa, onde exercia manejo obstétrico, ginecológico, neonatal e pediátrico de um plantel de mais de 300 animais (matrizes e padreadores). É Diretora Clínica do CetacVET (Centro de Ensino e Treinamento em Anatomia e Cirurgia Veterinária) e coordenadora dos cursos de Clínica Médica, Auxiliar Veterinário e Primeiros Socorros.