Instituto de Saúde e Psicologia Animal – 26 abr 2019
Os companheiros de quatro patas também envelhecem. É um fato e não há como ignorar que, assim como os humanos, nessa fase da vida, eles também vão precisar de um olhar mais atento e de cuidados específicos. Assim como a doença de Alzheimer pode acometer humanos idosos, alguns cães mais velhinhos podem padecer da chamada Disfunção Cognitiva Canina (DCC).
O mal pode levar à alterações de comportamento secundárias à função mental diminuída. Estas mudanças podem passar despercebidas por muito tempo. Por isso, a presença do tutor, sua observação diária e o acompanhamento profissional da saúde do cão podem ser decisivos. Para ajudar a esclarecer dúvidas sobre como lidar e tratar a Disfunção Cognitiva Canina, preparamos este artigo. Acompanhe a leitura e ofereça mais bem-estar ao seu animal de companhia.
Como observar as alterações cognitivas?
O diagnóstico da DCC não conta, até o momento, com testes disponíveis. Então, são de grande importância as observações do tutor e o histórico do animal. O acompanhando geriátrico por um (a) Médico (a) Veterinário (a) deve ser iniciado por volta dos 7 anos de idade para que um perfil de comportamento seja traçado. Com ele, é possível identificar de forma precoce as alterações cognitivas. As mudanças comportamentais que podem afetar os cães idosos são: redução da atividade física, distúrbios do sono, mudanças no apetite, micção inapropriada, agressividade, diminuição da interação social, desorientação, esquecimento de comandos básicos anteriormente conhecidos, vocalização sem razão aparente, entre outras.
Como tratar a Disfunção Cognitiva Canina?
Não há cura para a doença, mas há caminhos e soluções que podem ajudar a desacelerar o processo de evolução da disfunção cognitiva nos cães. Alguns medicamentos, aliados à mudanças de comportamento, manejo ambiental e alteração na dieta estão entre as possibilidades. Vamos citar abaixo o que pode ser feito para auxiliar seu velho companheiro:
- Comprometimento do tutor
No tratamento da Disfunção Cognitiva Canina (DCC), o tutor é parte fundamental e sua educação e o seu comprometimento são imprescindíveis para o sucesso da empreitada. Como já citado, mudanças no comportamento do cão devem ser notadas pelos tutores e o animal deve ser encaminhado para seu (sua) Médico (a) Veterinário (a) para avaliação e encaminhamento específicos.
- Estímulo mental e treinamento positivo
Quando o animal começa a apresentar sinais de disfunção cognitiva, algumas técnicas de treinamento positivo sem punição devem ser implementadas. É possível re-treinar cães idosos mesmo com a capacidade cognitiva diminuída. A estimulação mental é de suma importância na manutenção da acuidade cerebral, então, mantenha o cérebro do cão ocupado com novos brinquedos, atividades novas e socialização. Na hora dos comandos, use sinais claros e óbvios e não crie muitos comandos novos. Procure utilizar os comandos básicos, e para aqueles que já possuem déficit auditivo, um assovio é mais do que necessário para alertar o animal.
- Mudanças na ambientação da casa
Quando há um cão idoso em casa, ajustes precisam ser feitos para seu melhor convívio. A re-ambientação da casa ajuda muito. Por exemplo, o tutor pode mover a mobília de lugar (deixar mais espaço livre, no caso de animais com déficit visual), levar o cão para fora com mais frequência para urinar e defecar, deixar uma meia luz acesa à noite para que o animal se oriente pela casa, colocar tapetes pela casa para facilitar a locomoção daqueles com artrites. São muitas as possibilidades e adequações que podem ser feitas para acomodar e oferecer mais bem-estar e segurança para animal e tutor. É uma questão de cuidado e de responsabilidade.
- Suplementação na dieta
A atenção com a alimentação integra o tratamento da Disfunção Cognitiva Canina (DCC). A dieta deve ser rica em antioxidantes e há rações específicas no mercado. A S-adenosilmetionina (SAMe), um metabólito endógeno essencial, tem se mostrado de grande auxílio por seus efeitos antioxidantes, que melhoram a plasticidade neuronal e a renovação de certos neurotransmissores.
Uso de medicamentos na Disfunção Cognitiva Canina (DCC)
A terapia com psicofármacos no tratamento da Disfunção Cognitiva Canina é variada e tem finalidades como: melhorar a circulação no cérebro por ação vasodilatadora (propentofilina, nicergolina), efeito antioxidante (selegelina, propentofilina e nicergolina), incrementar a função de neurotransmissores (selegelina e clomipramina) e ter efeito neuroprotetor ( selegelina e propentofilina).
Na medicina humana, muitos medicamentos têm sido desenvolvidos para o tratamento de Alzheimer. Atualmente, nos EUA, somente o Selegiline (L-deprenil) está aprovado pelo FDA (US Food & Drug Administration), especificamente para cães, apesar de ser usado em gatos com sucesso. L-deprenil é um inibidor irreversível da monoamina-oxidase (MAO). As duas principais monoamina-oxidases são a MAO-A e MAO-B. Ambas, porém principalmente a B, catabolizam a desaminação oxidativa de várias catecolaminas, particularmente, dopamina, norepinefrina, epinefrina, beta-feniletilamina e serotonina. As duas monoamina-oxidase (MAO), mas principalmente a MAO-A, também catabolizam aminas exógenas que derivam de vários alimentos e fármacos, resultando em um efeito significativo no trato digestório e no fígado de animais mais velhos.
Mas, atenção, nenhuma medicação deve ser usada sem indicação de um (a) Médico (a) Veterinário (a). Cada caso deve ser avaliado individualmente e cada cão deve passar por exame físico e análises complementares.
Dra. Ceres Berger Faraco
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Graduada em medicina veterinária, é mestre e doutora em Psicologia e especialista em Toxicologia. É coordenadora e professora do Curso de Especialização em Comportamento Animal da Unifeob (SP); e professora do Instituto de Saúde e Psicologia Animal (INSPA). Em clínica, trata de distúrbios comportamentais de cães e gatos, proporcionando melhor qualidade de vida. Ceres é ainda presidente da Associação Latino-Americana de Zoo-Psiquiatria (AVLZ) e vice-presidente da Associação Médico Veterinária Brasileira de Bem-Estar Animal (AMVEBBEA). Além de palestrar no Brasil e no Exterior, atua no Instituto Psicologia Animal.
Dra. Viviane Guyoti
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Graduada em Biologia e em Medicina Veterinária, é mestre em Ciências Veterinárias. Sua experiência curricular conta com passagem por Cornell University, nos Estados Unidos, e residência médica em Patologia Clínica Veterinária na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente, é docente no curso de Medicina Veterinária da Universidade Anhembi Morumbi, nas áreas de Medicina Complementar ao Diagnóstico e Práticas Veterinárias. Já foi docente e coordenadora geral do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter) e lecionou as disciplinas de Clínica de Pequenos Animais, Bem-estar Animal, Etologia, Semiologia e Primeiros Socorros em Pequenos Animais.
Dra. Bruna Bons
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Graduada em Medicina Veterinária e especialista em Comportamento Animal, é Mestranda em Reprodução Animal (FMVZ-USP) e atua como docente da Faculdade Método de São Paulo (Famesp). Realiza atendimentos clínicos relacionados ao comportamento de cães e gatos de forma autônoma e na rede Petz.