Instituto de Saúde e Psicologia Animal – 03 mar 2020
O novo coronavírus vem gerando surtos de pneumonia em pessoas de vários continentes e a preocupação mundial é com o risco global à saúde pública. Este vírus foi inicialmente identificado em Dezembro de 2019 na cidade chinesa de Wuhan e posteriormente, em fevereiro deste ano, o vírus foi nomeado de “SARS-Cov-2” sendo que a doença é referida como “COVID-19”. Além dos milhares de casos já detectados na própria China e das ocorrências de mortes em pessoas infectadas, está confirmado o perigo de sua propagação global e transmissão de pessoa para pessoa, à medida que todos os dias vemos nas mídias novos casos de pneumonia viral grave entre familiares e agentes de saúde pelo mundo todo. Mas e nos cães e gatos e outros animais? O mesmo é possível ocorrer? Quais são os riscos deste novo coronavírus infectar também os nossos pets? Acompanhe a leitura e esclareça as questões.
O que é o coronavírus?
Primeiro é preciso esclarecer que os coronavírus não são de um tipo só e eles pertencem a uma grande família que, no meio científico, chamamos de Coronaviridae. Dentro dessa família, alguns deles infectam pássaros e peixes (tipos gama e delta-coronavírus) enquanto que outros, geralmente, infectam mamíferos (tipos alfa e beta coronavírus). Dentro desse contexto, o coronavírus que infecta o cão não é o mesmo que infecta o gato e nenhum deles está associado ao atual surto de coronavírus que vem alarmando nós seres humanos, pois estes que infectam nossos cães e gatos são do tipo alfa-coronavírus.
O coronavírus que assusta humanos pode ameaçar os pets?
A pergunta que surge é: esse coronavírus foi descoberto recentemente, ele é novo, nós seres humanos somos mamíferos, cães e gatos também são mamíferos, então, quem nos garante que esse novo vírus também não possa infectar nossos animais ou que de repente novos coronavírus apareçam por aí?
Pois então, até o aparecimento desse novo “inimigo” dos seres humanos (que na sua identificação ele é classificado como beta-coronavírus) havia outros 06 (seis) tipos conhecidos de beta-coronavírus capazes de infectar seres humanos e causar doenças respiratórias mais graves. As informações que se têm até hoje sobre esses tipos já conhecidos têm ajudado em muito os pesquisadores a entender se o “SARS-Cov-2” se comporta de forma semelhante e se haverá novas recomendações sobre a doença COVID-19.
Muitos avanços já têm ocorrido nas últimas semanas como progressos no isolamento do vírus, identificação das causas e origem dessa doença em humanos, assim como o desenvolvimento de novas ferramentas para o diagnóstico. Portanto, devemos ter calma e não se apavorar pois, tem muita gente trabalhando fortemente para encontrar respostas rápidas!
Sobre acometer ou infectar animais de estimação, segundo o Comitê Científico (SC) e o Comitê de Saúde Única (OHC) da Associação Mundial de Veterinários de Pequenos Animais (WSAVA), “atualmente, não há evidências de que animais de estimação (cães e gatos) possam ser infectados pelo SARS-Cov-2 ou transmitir a COVID-19. Esta é uma situação em rápida evolução e as informações serão atualizadas à medida que estiverem disponíveis.”
Uma pessoa infectada pode ter contato com cães e gatos?
Se uma pessoa estiver em quarentena ou doente com a COVID-19, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) recomendam que “você deve restringir o contato com animais de estimação e outros animais enquanto estiver doente com a COVID-19, assim como faria com outras pessoas. Embora não tenha havido relatos de animais de estimação ou outros animais adoecendo com a COVID-19, a limitação de contato é recomendável (…) até que mais informações sejam conhecidas sobre o vírus. Quando possível, peça a outro membro da sua família que cuide dos seus animais enquanto estiver doente. (….) Se você precisar cuidar do seu animal de estimação ou ficar perto de animais enquanto estiver doente, lave as mãos antes e depois de interagir com os animais e use uma máscara facial (filtro biológico).”
Sobre o relato de que um cão foi “infectado” com COVID-19 em Hong Kong
“Notícias de Hong Kong, em 28 de fevereiro, indicaram que o cão de um paciente infectado havia testado ‘fracamente positivo’ para COVID-19 após testes de rotina. O Departamento de Agricultura, Pescas e Conservação (AFCD) de Hong Kong informou que o cão, que não apresenta sinais clínicos, foi colocado em quarentena e mais amostras serão coletadas para confirmar se o cão está realmente infectado pelo vírus ou se o resultado do teste foi causado por contaminação ambiental.”
Observação – Esse foi um breve esclarecimento baseado em um artigo mais completo da Global Veterinary Community (WSAWA), cuja leitura é recomendada, bem como os respectivos sites e links indicados no referido texto da WSAWA. Leia em: https://psicologiaanimal.com.br/wp-content/uploads/2020/03/COVID-19_WSAVA-Coronavirus.pdf
Dra. Ceres Berger Faraco
www.psicologiaanimal.com.br
Graduada em medicina veterinária, é mestre e doutora em Psicologia, especialista em Toxicologia e professora do Instituto de Saúde e Psicologia Animal (INSPA). Em clínica, trata de distúrbios comportamentais de cães e gatos, proporcionando melhor qualidade de vida. Ceres é ainda presidente da Associação Latino-Americana de Zoo-Psiquiatria (AVLZ) e vice-presidente da Associação Médico Veterinária Brasileira de Bem-Estar Animal (AMVEBBEA). Além de palestrar no Brasil e no Exterior, atua no Instituto Psicologia Animal.
Dra. Viviane Guyoti
www.psicologiaanimal.com.br
Graduada em Biologia e em Medicina Veterinária, é mestre em Ciências Veterinárias. Sua experiência curricular conta com passagem por Cornell University, nos Estados Unidos, e residência médica em Patologia Clínica Veterinária na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente, é docente no curso de Medicina Veterinária da Universidade Anhembi Morumbi, nas áreas de Medicina Complementar ao Diagnóstico e Práticas Veterinárias. Já foi docente e coordenadora geral do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter) e lecionou as disciplinas de Clínica de Pequenos Animais, Bem-estar Animal, Etologia, Semiologia e Primeiros Socorros em Pequenos Animais.